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Kuy - Karyne Elise

instagram.com/kuyillustrations

Todas as imagens neste site foram utilizadas com permissão da artista. Caso queira reproduzir alguma delas, entre em contato com ela.

Pra você, o que é representatividade?

Representatividade é você sentir e perceber que algum aspecto próprio, pessoal, está sendo correspondido e demonstrado por algo ou alguém. Envolve empatia e a percepção de que pessoas necessitam disso para elevar a autoestima, para se sentirem contempladas, para conseguirem ter ídolos que não são intocáveis ou idealizados, mas que essas mesmas pessoas podem ser. Em aspectos pessoais, gosto de ser representada, não só em termos físicos, mas psicológicos também, pois assim consigo enxergar que posso ser tal pessoa (se ela é forte, determinada, guerreira, por exemplo, talvez um dia eu consiga ser tudo isso).

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade?

Sim, até porque o assunto tem estado mais em voga. Tem-se falado muito mais disso e as pessoas cobram representatividade. Isso é importante.

Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial?

Os desafios são os esteriótipos, pois é muito fácil cair neles, mesmo que não intencionalmente. Na área da ilustração, por exemplo, é perigoso fazer uma personagem negra com lábios enormes, pois pode parecer uma brincadeira de mau gosto. Da mesma forma que é muito perigoso fugir muito da realidade, como fazer personagens negras com traços mais brancos, por exemplo (como nariz e lábios finos, boca pequena, cabelos lisos). É importante representar, tentar mostrar a realidade, mas sem cair na zoeira, nos esteriótipos ou na "higienização". Uso este termo pois parece que há uma tentativa de querer esconder a realidade, fingir que ela não existe. Se for fazer personagens negras, que seja com aquele nariz de bolinha, aquela boca mais carnuda, aquele black grandão. Mas nada super exagerado ao ponto de se tornar uma humilhação pra quem está observando a ilustra ou pra quem você tá tentando representar.

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social?

Ultimamente, eu trabalho mais com ilustração didática infantil. Sim, eu creio que meu trabalho tenha um impacto social, pois a criança começa a formar conceitos identitários desde muito cedo. Fazer com que uma criança negra mais gordinha consiga se enxergar brincando com os amiguinhos em uma ilustração no livro da escola é muito importante, muito essencial. Até porque, quando a sociedade lida com minorias, quando lida com o "diferente", tende a desprezar tudo isso. Tende a julgar, a fazer bullying... As pessoas são ensinadas a diminuir o que é diferente delas. A sociedade forma "padrões" do que devemos ser e se fugirmos desses "padrões", seremos taxados como errados, defeituosos, ridículos, inúteis e por aí vai. Se uma criancinha negra gorda, por exemplo, olha para uma personagem igualmente negra gorda e FELIZ na ilustração, pode fazer com ela perceba que também pode ser feliz que nem a personagem.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista?

Meu conselho é conversar com pessoas que precisam ser representadas mais frequentemente (como as minorias, por exemplo), observar, ter mais empatia, se colocar no lugar do outro. Afinal, como já mencionei, se eu for representada, gostaria de me enxergar forte, determinada etc. Se a todo momento eu for colocada como alguém fraca, pequena e inútil, passarei a acreditar que eu de fato sou todas essas coisas negativas, que esse é o padrão. É difícil sair do padrão ou conseguir perceber que há saídas.

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