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Acerolas - Gabriela Carvalho e Lilian Espíndola

instagram.com/acerolas_

Todas as imagens neste site foram utilizadas com permissão da artista. Caso queira reproduzir alguma delas, entre em contato com ela.

Pra você, o que é representatividade?

Para nós, representatividade é ser uma referência para alguém que compartilha um determinado grupo social com você na sociedade. É poder se inspirar em uma pessoa, por conseguir se identificar com ela. É sentir que você não está sozinho, que tem outras pessoas "parecidas" com você lutando pelas mesmas causas que você acredita. A representatividade é especialmente importante para os grupos oprimidos da sociedade, que de algum jeito têm seus direitos tolhidos, de forma velada ou explícita. Ela nos dá um sentimento de força coletiva, que nos impulsiona a resistir. A gente não pode enxergar o que a gente não vive, e é por isso também que existe representatividade: para mostrar às pessoas pontos de vista, realidades, compreensões de mundo diferentes.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade?

A arte é um reflexo do que acontece na sociedade. Logo, dado o contexto – ainda pequeno, mas em constante crescimento – de ascensão dos movimentos sociais na mídia, os artistas têm cada vez mais se preocupado em produzir artes empoderadas, mostrando o mundo a partir do ponto de vista deles.

Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial?

Entender a pluralidade do grupo que você está representando, ou seja, tomar cuidado para não reforçar estereótipos e saber o seu lugar de fala. Nós, por exemplo, fazemos parte de um grande grupo: mulher. Mas há vivências que não conhecemos, como a negra, indígena, trans, periférica, etc. Logo, nós só podemos falar sobre ser uma mulher de classe média nordestina. Ao nos reafirmarmos, temos que ter o cuidado de não excluir nem oprimir as outras mulheres que tem vivências diferentes das nossas. O nosso papel é apenas de apoiá-las.

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social?

Acreditamos que a própria representatividade nos estimulou a produzir arte. Percebemos que os grupos oprimidos sempre têm que provar mais suas competências para serem aceitos. Uma mulher, por exemplo, produzindo qualquer coisa, principalmente a nível profissional, tem que ser a melhor para obter credibilidade, caso contrário ela não é levada a sério. Esse tipo de pressão muitas vezes nos desestimula a lutar pelo nosso espaço. Ver mulheres ganhando visibilidade com seus trabalhos artísticos, de cunho político ou não, nos inspirou muito e nos dá cada vez mais força em acreditar no nosso potencial. Outro fator que nos estimulou foi o fato de dificilmente vermos frases feministas em português. Notamos que estávamos consumindo “produtos feministas” que não nos representavam completamente: nem toda a população brasileira fala inglês, nem todos que veem as camisas feministas pelas ruas se identificam com as mensagens. Percebe-se que muitas vezes a linguagem distancia o leitor do conteúdo da mensagem. Somado a isso, temos também a questão de sermos mulheres nordestinas. Ainda é muito disseminada a visão de que tudo das regiões sul e sudeste é sempre superior, no entanto o Nordeste é repleto de cultura e potencial criativo, assim como todos os Estados brasileiros. Basta haver visibilidade para isso. Ao incorporar o nosso sotaque nos letterings, nós tentamos democratizar mais o feminismo, tornando ele mais acessível do ponto de vista local, além de empoderar as nordestinas, grupo que ainda é vítima de preconceito. Hoje em dia, a mídia tem dado mais ênfase ao Nordeste, o que ocasionou aos próprios pernambucanos terem mais orgulho de seu Estado. Tudo isso nos deu mais espaço para sermos bem recebidas com nossa proposta. Portanto, acreditamos que temos um impacto ideológico, de auto aceitação e empoderamento da mulher nordestina.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista?

No contexto das lutas sociais aos poucos conseguindo mais força e, em contrapartida, os movimentos fascistas tentando contê-las, o conselho que damos para um artista é: tenha consciência do poder que a arte tem, tanto político quanto social, de sensibilizar, empoderar e aproximar as pessoas; esteja seguro de seus posicionamentos para não ofender grupos oprimidos, e só vai!

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